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Análise / Review: Boot Hill Heroes

Gosta de RPGs, mas não aguenta mais aquelas ambientações mágicas e fantasiosas, aqueles cabelos otakuloides?

Especialmente se você gosta de filmes de velho oeste, Boot Hill Heroes traz um RPG de raíz, com um combate mais dinâmico que o normal, e o melhor, com suporte a cooperação local para até 4 jogadores!

Fizemos um post sobre o jogo assim que ele chegou ao Steam, e agora finalmente conseguimos analisar tudo que o jogo tem a oferecer. Confiram!

Ficha Técnica

Gênero RPG
Aventura
Desenvolvedora Experimental Gamer Studios
Publicadora Experimental Gamer Studios
Cooperativo Local 4 jogadores
Cooperativo Online Sem suporte
Cooperativo em Rede Local Sem suporte
Data da lançamento 10/10/2014
Data da análise 02/11/2014

Requisitos Mínimos

Processador 1.6 GHz
Memória 1 GB
Espaço em Disco 150 MB
Direct X 9.0c

Enredo

Prólogo

O jogo começa com um prólogo, onde você acompanha o corajoso xerife Templeton Howl encarando Coyote Saint, líder da gangue Saints-Little, que aterrorizava a região.

Após a pequena introdução, o jogo avança 10 anos, te colocando no papel de Kid (sim, é o nome do personagem principal), filho de Templeton Howl, que vive na pequena cidade de Bronco County, que naturalmente, começa o jogo acordando em sua cama.

Ambientação

A princípio você faz pequenas missões caseiras aqui e ali, mas logo é fisgado por uma trama que põe em cheque paz que seu pai trouxe à região, e embarcará numa longa jornada entre vilas, ranchos, minas, prisões, e até o próprio coração do Velho Oeste americano.

A história é bem simples e repleta de clichês, mas considerando a inovação da ambientação para seu gênero, acaba sendo algo bem original. Como todo RPG, é repleto de diálogos com NPCs, e alguns te dão alguma escolha – embora na maioria das vezes, o que você decide falar não faz diferença.

O interessante é que o jogo pende entre momentos de drama e humor, que são muito bem interligados, e fazem com que a aventura não fique cansativa ou enjoativa, mantendo o interesse na leitura dos diálogos e acompanhamento da história.

Progressão

Níveis e estatísticas

Como todo RPG clássico, o jogo possui um sistema de níveis, ganhos através do acúmulo de experiência em combate. Ao passar de nível, você ganhará automaticamente uma quantidade específica das seguintes estatísticas:

  • Força (Strength): aumenta o dano de ataques sem arma, armas corpo-a-corpo e arcos.
  • Destreza (Dexterity): aumenta o dano de pequenas armas de fogo, arcos e cordas.
  • Esperteza (Smarts): aumenta a eficácia de ataques mentais ou defesa de ataques mentais.
  • Coragem (Grit): aumenta precisão e evasão, e dano com armas corpo-a-corpo e armas de fogo.
  • Resistência (Rugged): aumenta resistência e reduz duração de status negativos.

Inventário

Além do sistema de níveis, cada personagem possui um simples inventário tradicional, com 4 locais para itens:

  • Arma (Weapon): aumentam o dano dos ataques, além de influenciar no uso de certas vantagens.
  • Chapéu (Hat): além de serem um item visual, determinam o tipo de vantagens que o personagem irá aprender.
  • Armadura (Armor): servem para reduzir o dano tomado.
  • Bugiganga (Trinket): fornecem bônus variados e únicos, ou mesmo dão alguma habilidade extra.

Hat Simulator 2014

O que mais merece destaque certamente são os chapéis: ao equipar um chapéu, o personagem poderá aprender Vantagens (Advantages) específicas conforme o chapéu equipado, ganhando Pontos de Vantagem (Advantage Points) em combate, em adição aos pontos de experiência.

Vantagens são as ações que o personagem poderá desempenhar dentro de combate, de ataques e habilidades variadas até posições defensivas.

Ao todo, cada personagem poderá ter 4 vantagens selecionadas para uso em combate, mas poderá aprender muito mais.

Como o chapéu equipado serve apenas para aprender as vantagens, você tem a liberdade de equipar qualquer chapéu, caso já tenha aprendido todas as vantagens que quisesse e estivessem disponíveis, e utilizar 4 das vantagens que aprendeu. Certamente, tem mais liberdade ainda que o sistema clássico de jobs!

Outro detalhe é que o jogo não possui itens consumíveis: nada de poções, elixirs, tendas ou coisa do gênero. Os itens que não são equipáveis são considerados itens de craft, e podem ser vendidos para mercantes por dinheiro, ou eventualmente, entregues a um NPC no mundo para criar algum item específico.

Ao longo de sua aventura, seu personagem poderá coletar buffs e debuffs também. A maioria dos debuffs afetam o personagem apenas durante o combate, mas alguns deles podem persistir após o combate.

Caso isso aconteça, você tem duas possibilidades: ou esperar ele passar sozinho, o que pode demorar muito tempo, ou deve direcionar-se a um NPC Doutor nas cidades, e pagar uma taxa para remoção. Cada debuff tem um preço para ser removido, pois na prática, demanda um medicamento em específico.

Mas não fique triste: o jogo eventualmente te dará buffs também, que persistirão por um bom tempo e entre combates. Esses buffs são adquiridos em conversas com certos NPCs, as vezes no primeiro diálogo, as vezes no segundo, por aí vai.

Buffs e debuffs persistentes dessa forma dividem os mesmos slots do personagem, e portanto há um limite do que você pode manter de ambos.

Achou pouco os sistemas de progressão? Pois saiba que você terá até 4 personagens simultâneos, e cada um deles terá tudo isso citado!

Jogabilidade

Movimentação

Fora de combate, o controle é exatamente igual ao de um jogo de aventura ou RPG clássico, com o personagem andando livremente no mundo, podendo entrar em construções, interagir com objetos, conversar com NPCs, e claro, entrar em combate.

A movimentação é feita com WASD, limitada a 4 sentidos. A tecla de interação é F, e é o que você apertará em 99% das situações, especialmente para interagir com NPCs.

A tecla Q pode poderá ser eventualmente utilizada fora de menus para invocar o cavalo, agilizando muito o transporte fora de casas, mas antes disso precisa ser liberado na história.

Menu

Como todo JRPG, boa parte do jogo se passará lutando contra o menu do jogo, para equipar itens, checar personagens, etc.

Os comandos para controle de ações de menu são: X abre o menu, Z cancela, Q mostra informações adicionais sobre a opção de menu selecionada.

Diálogos

Outra tecla a ser usada fora de combate é a barra de espaço, que troca o personagem que lidera o grupo. Em geral não faz muita diferença, mas muitos diálogos com NPCs podem variar conforme o personagem que estiver falando com eles.

Além de servir para aquisição de informações, os diálogos com NPCs servem para prosseguir na história ou ganhar buffs, e certamente constituem um dos grandes focos do jogo.

Um NPC pode ter falas diferentes também, se conversar com ele pela segunda vez, por exemplo. Portanto sim, você provavelmente vai sair pelo mundo dando uma de Sr. Educado e conversando com todo mundo que apareça pela sua frente. Mais de uma vez!

O comportamento padrão dos diálogos é bem lento: como se cada frase do NPC fosse dita por uma vez, letra por letra, e você tendo que apertar a tecla de interação a cada frase.

Felizmente, após alguns patches, o jogo incluiu uma opção de mudar esse comportamento, e agora possui 3 opções: Scroll, que é esse funcionamento padrão; Auto, que irá instantaneamente preencher as frases, sem preenchimento por letra; ou ainda Block, que irá preencher rapidamente o bloco de mensagens, com o jogador tendo de apertar a tecla de interação apenas para ver o restante do diálogo.

Inimigos

Enquanto você anda pelo mundo, muitas vezes verá NPCs inimigos andando pra lá e pra cá (igual ocorria em Chrono Trigger), e se aproximar deles, eles te perseguirão. O combate irá começar assim que um desses NPCs encostar em você.

Portanto, é possível evitar a maioria dos combates do jogo, exceto os da história.

Combate

Entrando em combate, o jogo é muito similar a jogos em turnos do gênero – com o diferencial de ser muito mais ativo. Um dos motivos disso é o fato de não haver barra de mana ou algo do gênero: o que limita as ações é a barra de Power.

Ou seja, você terá 4 ações distintas para realizar em combate, conforme as vantagens equipadas no personagem, e cada uma delas terá um custo de Power diferente para ser desempenhada.

A barra de power recupera gradativamente para todos os personagens e inimigos, e você não precisa ter a quantidade necessária para a ação na hora de escolhê-la: se não tiver power suficiente, a ação entrará numa fila, com o personagem aguardando seu power recuperar, e executando a ação assim que possível.

Da mesma forma, seus inimigos escolherão uma de suas ações, e embora você não poderá saber o nome da vantagem que eles escolheram, poderá ver o custo de Power da ação escolhida por eles – o que em geral implica que quanto maior o custo, mais forte e perigosa a habilidade.

Aí entram em cena algumas habilidades, dentre ela as vantagens conhecida como posturas (stances), que ficarão ativas em seu personagem, e muitas delas tem um fim defensivo, desviando de ataques ou reduzindo o dano sofrido, por exemplo.

Portanto, o combate é bem dinâmico, com você e os inimigos revezando entre posturas defensivas e ataques variados, e não necessariamente sendo apenas uma troca de ataques.

Parece complicado? Imagine então controlar 4 personagens simultaneamente! A cada personagem extra, o combate fica mais complexo: você pode desempenhar posturas defensivas individualmente, ou mandar alguns personagem ficarem fazendo ataques rápidos, enquanto outro carrega um ataque mais poderoso.

Com mais de um personagem, você pode escolher a ordem dos personagem livremente: as teclas A e D devem ser usadas para alternar entre os personagens.

Quando você já escolheu a ação de todos os personagens, o combate é acelerado, de modo que o power recupere mais rapidamente tanto para seus personagens quanto para os inimigos. Assim que um personagem seu desempenhar a ação desejada, o combate volta ao seu ritmo padrão.

Clean Sweep

Outro detalhe interessante no jogo é que quando você consegue finalizar um combate sem tomar nenhum dano, é chamado de clean sweep, e você recebe pontos de experiência e vantagem duplicados, além de recuperar a vida de todos os personagens!

Como não há poções ou coisas do gênero, a vida dos personagens recupera automaticamente fora de combate com o tempo.

E dentro de combate, quando um personagem morre, inicia-se um contador para ele ser revivido dentro de combate também.

Porém, todo personagem morto recebe um debuff negativo, portanto mesmo que você não gaste nada para revivê-lo ou curá-lo, irá ter de gastar para remover o debuff num Doutor!

Há sim, e o save do jogo não é automático, nem pode acontecer em qualquer lugar: para salvar, você deve encontrar seu fiel cão Rusty pelo mundo, e pedir que ele salve o jogo pra você!

Arte

Gráficos e Interface

O jogo é extremamente retrô, possuindo gráficos em pixels num estilo visual muito singular, extremamente inspirado no clássico Earthbound.

O menu, a interface, todos os detalhes são extremamente retrôs, e embora simples, são bem limpos, e cumprem extremamente bem seu papel.

Em virtude da simplicidade do jogo, não há opções gráficas ou algo do gênero: você só pode optar por tela cheia, ou 3 tamanhos de janelas, e o jogo nem se recorda da sua escolha quando você reabrí-lo.

Sons e música

A parte sonora foi tão bem pensada quanto a visual, e mantem a temática retrô, somada à ambientação de velho oeste.

O resultado, especialmente na parte musical, é muito bom – mas também não pegaram leve: o autor das músicas é Jake Virt Kaufman, responsável também pela trilha do fantástico Shovel Knight, ícone de produção retrô da atualidade.

Cooperativo

RPG coop

Uma das coisas que me chamaram atenção no jogo é o fato de ser divulgado como cooperativo local para 4 jogadores. É algo raro pois RPGs em 99% dos casos são single-player, com os desenvolvedores sempre alegando que em jogos multiplayer, a imersão é sempre prejudicada.

Felizmente, o pessoal da Experimental Gamer Studios não abandonou a ideia, e não só fez um suporte a cooperação, como na verdade desenhou o jogo levando isso em consideração, especialmente na hora de criarem o combate dinâmico.

Seleção de personagens

Para jogar o jogo com um amigo, você deve naturalmente primeiro pegar outro personagem adicional do seu grupo. Assim que pegar o primeiro, o jogo já avisará que você poderá distribuir o controle do personagem a outro jogador.

Abrindo o menu dentro do jogo, antes das opções propriamente ditas, o jogo listará os personagens do grupo, e à direita, o ícone do controle de cada um dos personagem. Você poderá então atribuir um personagem a cada controle distinto.

Durante o combate, cada jogador assumirá controle de seus respectivos personagem. Fora de combate, a influência é mínima: só um jogador irá mover o grupo todo, conforme o personagem que estiver a frente do grupo.

De certo modo, a cooperação é bem restrita e limitada, mas deixa o combate mais interativo, e inclusive menos pesado.

O único ponto fraco é o fato do jogo utilizar XNA da Microsoft, e portanto só dar suporte a controles de Xbox 360

Veredito

Não tem o que discutir: a combinação de RPGs tradicional e ambientação em velho oeste já dariam destaque suficiente ao jogo, mas somando as alterações que fizeram para deixar o combate mais dinâmico e com suporte a múltiplos jogadores o transformam facilmente numa pérola pra quem é fã do gênero.

O estilo do jogo, que é um tributo vivo dos clássicos do passado, tanto graficamente quando sonoramente, também impõe respeito, e certamente contribui para a nostalgia de quem curtiu RPGs no Super Nintendo. De fato, tem horas que parece que você está rodando um emulador no computador!

A história é comovente, e em muitos momentos, laça a gente muito facilmente, com um misto de humor bem colocado, drama e surpresas. Portanto, aproveite os diálogos!

E mais: desde seu lançamento, o jogo recebeu múltiplas pequenas atualizações, tanto para correção de bugs e crashes, mas também para atender a solicitações da comunidade. Portanto, certamente o jogo irá melhorar cada vez mais, conforme o feedback da comunidade aumentar!

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